domingo, 30 de janeiro de 2011

UM SOPRO DE ADOLESCÊNCIA - PARTE 1

UM SOPRO DE ADOLESCÊNCIA
Sento-me num dos bancos da plataforma de subida dos trens na estação ferroviária de Nova Iguaçu, numa manhã cinzenta de segunda-feira, torcendo para que a composição não demore muito; não porque eu esteja com tanta pressa assim, mas se sentir dentro da condução em movimento, sabendo que em breve estarei em casa, é melhor e bem mais reconfortante do que a angústia da espera, sem a esperança tranquilizadora da chegada.
A plataforma encontrá-se com pouca gente àquela hora do dia, exatamente às dez horas e trinta e dois minutos, constato olhando de modo estratégico para meu relógio de marca humilde, ganho no último aniversário. O movimento é compreensível, afinal não é hora do rush e as pessoas, atualmente, têm se dividido muito entre os trens e os ônibus, pois os preços das passagens se equiparam, criando assim opções justas de locomoção.
No banco onde estou ainda me encontro solitário, sem o menor sinal de trem no horizonte e achando que, quando menos esperasse, a voz do alto-falante anunciaria onde ele se encontrava no momento e que, dentro de instantes, o mesmo estaria dando entrada naquela plataforma.
Foi então que vi dois garotos vindo na direção onde me encontrava. Dois pré-adolescentes. Um ruivo, baixo, meio gorducho, e o outro, moreno, magro, e com ar meio enfadonho.
Os dois sentaram exatamente no banco em que eu estava, que era duplo, um virado pra outra plataforma, no caso a de descida, e o outro para a rua na qual passavam ônibus e demais veículos.

CONTINUA.
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domingo, 23 de janeiro de 2011

VEM BRINCAR COMIGO - FINAL

- Não fique com medo. Eu só quero brincar com você. Minha mãe falou que você estava aqui na sala. Eu fiquei muito contente.
A garota estava apavorada. Seus olhos estavam arregalados.
Eu gosto muito de brincar de canivete. Olha só como eu faço.
E ele começou a manipular o canivete com a mão livre. A lâmina sumia e reaparecia. Isso parecia que o fascinava.
- Você quer tentar um pouco? - ele relaxou um pouco a pressão sobre sua boca . Ela lhe deu um empurrão e levantou-se, correndo para a porta. Mas foi inútil. Não conseguiu destrancá-la.
- Que bom! Você quer brincar de pega-pega. Eu gosto muito disso.
- Afaste-se de mim, seu maluco. Eu vou começar a gritar - sua voz não tinha a mínima segurança, mas o sujeito pareceu se apavorar.
-Não! não! Gritar não, eu fico com medo.
E com isso, ele começou a ficar descontrolado. Dominou ela , tapando-lhe a boca, e num ato contínuo, enterrou a lâmina em seu peito. Ela quase conseguiu gritar, mas de sua boca saiu apenas um arremedo de súplica. Seu corpo foi ficando mole nas mãos do sujeito. Ele a deitou no chão e gritou pela sua mãe.
A mulher reapareceu no cômodo e viu o que tinha acontecido. Falou em tom de repreensão para o filho:
- Mas já fez besteira, Argemiro? Não demorou quase nada para despachar essa também? Assim fica difícil. Temos que nos livrar dela logo. E vê se não me enche o saco, pelo menos por hoje, para arrumar alguém pra você brincar. Vai ficar sem café com leite durante um mês pra aprender a tomar juízo. vai ter de se virar, sem ninguém pra brincar , tá ouvindo? E agora me dá o canivete
, antes que eu te dê uma surra e talvez te cure de uma vez por todas. Antes de sumir pro seu quarto, traga o corpo de sua ex-amiguinha e coloque-a naquele compartimento junto com as outras quatro anteriores, depois eu dou um jeito de nos livrarmos delas de vez, por enquanto vamos fazer apenas isso. Pelo menos para alguma coisa você serve , meu grande garoto.
- Tá bom, mamãe - respondeu o grandalhão, fazendo aquele trejeito de criança dengosa.

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Enquanto isso, numa rua ao lado, Alba Maria fechava mais uma venda.
- Muito obrigada! A senhora não vai se arrepender. Qualquer coisa, tem meu telefone. Qualquer dúvida é só dar um toque. Eu vou estar sempre à disposição.
A senhora a olhou com um ar de muita simpatia e agradecimento.
Alba se dirigiu a uma próxima casa e apertou a campainha.

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Enquanto isso na casa fatal.
- Não é nem preciso verificar pra saber como ela está , pois pela sua expressão você a acertou num ponto fatal. Estou certa?
- é isso aí, mamãe. Errei o cálculo e o alvo novamente. Prometo que na próxima vai ser diferente. Tá bom, mamãe, tá bom? - sua ansiedade na voz era quase palpável.
- Se houver uma próxima vez. Vamos, no momento temos que tirar a moça da sala, coitada.
- Tá legal. Será que hoje posso ficar vendo televisão até tarde? Tem um filme legal que eu quero ver.
Vou pensar no seu caso - respondeu a mãe, fazendo pouco caso do pedido- Vamos lá, pegue o corpo.
O brutamontes ergueu o corpo da moça como se fosse de isopor, jogou-o por sobre o ombro direito s saiu na frente de sua mãe em direção à porta dos fundos. Atrás dele, a senhora o olhava e balançava a cabeça, como se quisesse dizer: Ai, ai! Esse aí não toma jeito mesmo. Quando será que ele vai crescer?

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VEM BRINCAR COMIGO - PARTE 4

A moça entrou no recinto. Quando ia se identificar, a mulher a interrompeu:
- Espere um instante. Você deve estar com sede. Está um calor tremendo lá fora. Fique a vontade, eu vou buscar algo pra você beber. Só um instante. Pode por essa sua pasta em cima da mesa de centro. Ok?
A moça não percebeu, mas a mulher havia trancado porta. Fez isso do modo mais discreto possível.
Alguns minutos se passaram. A moça sentia que alguma coisa estava estranha no ambiente. Tentou relaxar e se sentou no sofá. Foi quando ouviu um ruído e levantou a cabeça. Em pé a alguns metros dela estava um sujeito de macacão jeans, de aparência madura, mas com gestual de criança. Ela levou um susto. Ele perguntou com a voz também de criança:
- Oi! Você que veio brincar comigo? Que legal! Nós vamos nos divertir muito.
E avançou na direção dela.
A moça arregalou os olhos, sem fala, espantada com a situação.
O sujeito continuava vindo em sua direção. Ela se levantou e caminhou em direção a porta. Foi quando percebeu que estava trancada. Um friozinho percorreu sua espinha.
O sujeito empunhava um canivete. Ela ia gritar, mas ele tapou sua boca e a levou pro sofá.
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sábado, 22 de janeiro de 2011

VEM BRINCAR COMIGO - PARTE 3

A mulher foi até a porta para atender à campainha. Fez um sinal ao filho para que fosse pro quarto dele.
- Me espere lá ! Qualquer coisa eu te chamo.
O sujeito com trejeitos de criança obedeceu.
A mãe dele abriu a porta da sala e caminhou até o portão, onde vislumbrou a silhueta de uma figura feminina. Ao abrir o portão ficou satisfeita com que viu. Estava diante de uma bonita estampa de uma jovem alegre e ansiosa.
A mulher deu um sorriso malicioso. Fez um convite para que a moça entrasse. A moça obedeceu.
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domingo, 16 de janeiro de 2011

VEM BRINCAR COMIGO - PARTE 2

Suas pernas já estavam doendo depois de quase um dia percorrendo ruas e casas em busca de clientes, mas ela ainda pretendia visitar, pelo menos, mais uma ou duas casas, antes de encerrar sua jornada de trabalho. O bom de trabalhar por conta própria era isso, poder fazer o próprio horário, sem ninguém para cobrar e monitorar possíveis atrasos e determinar locais e pessoas que deveriam ser visitadas. Alba resolvera ser representante de uma firma de produtos de beleza prevendo, ou tentando prever, todos os problemas que isso encerrava, como não ser bem recebida em algumas casas, ter de correr atrás de possíveis e certos maus pagadores, controlar isso do melhor modo, pois senão teria de arcar com os prejuízos, e o desgaste físico, afinal, por mais nova que fosse, perambular para lá e para cá, grande parte do dia, se tornava, no final das contas, algo extremamente torturante para o corpo, isso levando em conta que ela se dedicava à tarefa de forma implacável. Mas tinha de reconhecer que a coisa estava dando resultados positivos. Com o lucro que estava tendo, conseguia ajudar nas despesas de casa e ainda juntava um dinheirinho para o enxoval do casamento que se realizaria dentro de no máximo um ano, caso não houvesse qualquer imprevisto. Seu noivo, um corretor imobiliário em plena ascensão, falara com ela que estava ansioso para que esse dia chegasse logo, por ele casariam na semana seguinte, mas Alba lhe pedira que deixasse a ideia amadurecer de maneira espontânea, sem pressões que no futuro os levassem ao arrependimento. Ela sabia que seu noivo era uma pessoa de uma compreensão e generosidade sem igual, o cara perfeito com quem sempre sonhara encontrar. No momento tudo estava indo a contento. Aquele trabalho informal durante o dia e a faculdade de administração à noite. Tudo perfeito. Seu pai e sua mãe estavam muito contentes com ela, pois só arcavam, agora, com a despesa da instituição, no caso, para ser mais exato, seu pai é quem arcava, sua mãe só aplaudia.

Aos vinte e um anos, Alba Maria Vasconcelos se achava uma garota madura e responsável, pronta para os desafios que a vida certamente lhe apresentaria no decorrer de sua jovem existência.

A casa que ela resolveu visitar a seguir ficava no final da rua em que se encontrava, quase isolada das outras, possuía um muro alto, com portão de ferro que não deixava ver quase nada no seu interior, ao lado do mesmo, um pouco acima , mas o suficiente para ser alcançada, havia uma campainha, que Alba deu graças a Deus por existir, porque, em algumas casas não havia tal objeto, obrigando-a a bater palmas, tarefa que ela achava deveras desagradável. Então, sendo assim, levantou a mão e pressionou o aparelho, esperando que alguém respondesse ao chamado. Deu uns segundos de prazo, tornou a apertar, dando o mesmo espaço de tempo, já ia repetir o gesto, quando o portão se abriu e surgiu uma mulher que talvez tivesse uns sessenta e poucos anos, como Alba quis deduzir.

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Continua.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

VEM BRINCAR COMIGO - PARTE UM

VEM BRINCAR COMIGO
- Deixe de lado esse canivete um pouco e venha para a mesa lanchar, Argemiro.
- Tá bom, mãe! - respondeu um sujeito alto, aparentando uns trinta e poucos anos, mas com voz e trejeitos de um garoto de nove ou dez, ao mesmo tempo que enfiava um canivete automático em um dos bolsos do macacão jeans que estava trajando.
Sentando numa das cadeiras ao redor da mesa que continha café numa garrafa térmica estampada com personagens de revistas infantis, leite em pó, torradas e geléia, Argemiro, o sujeito de macacão, se dirigiu à mãe com uma voz hesitante.
- Mãe! - exclamou.
- Que foi, Argemiro? - a voz de sua mãe saiu com um falso rigor.
- Quando é que vou ter outra amiguinha pra brincar comigo?
- Não sei! - Desta vez a voz dela saiu realmente com uma certa agressividade - Você não sabe brincar. Vamos esperar para ver se aparece alguém. Caso isso não aconteça, pode ser que eu saia em campo e acabe encontrando uma amiguinha pra brincar contigo, e torcer para ela não ser muito medrosa. Mas você vai ter de aprender a se comportar e brincar direito com ela, senão vou acabar cansando dos seus excessos. Por enquanto vamos lanchar.
- Tá bom, mãe! - o sujeito pareceu sossegar , apalpando o canivete em seu bolso, com um ar de cachorro abandonado.

A tarde estava avançando. O relógio na parede marcava quatro e meia de um céu cinzento e clima frio.

Nesse instante a campainha soou, enchendo o ambiente com seu som desagradável.

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Continua

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

CONTO.

NO PRÓXIMO POST EU VOU COMEÇAR UM CONTO. PRETENDO ESCREVÊ-LO EM PARTES, PRA NÃO CANSAR O LEITOR E CRIAR UM SUSPENSE.
AGUARDEM!!

domingo, 9 de janeiro de 2011

PARADEIROS

PARADEIRO DE ALGUNS PERSONAGENS DE ANTIGAS MARCHINHAS DE CARNAVAL.

ZEZÉ: "Olha a cabeleira do Zezé. Será que ele é, será que ele é?"
Ele era. Por conta disso arrumou um namorado firme, depois de vários namoradinhos, foram morar juntos, e depois de um longo convívio adotaram um garoto que tratam como filho. Segundo dizem, vivem felizes até hoje,

A JARDINEIRA : "Ô Jardineira por que tá tão triste. Mas o que foi que te aconteceu? Foi a Camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu."
A Jardineira jamais se recuperou do trauma com a morte da Camélia. Foi internada numa clínica de recuperação, mas, segundo dizem, nunca voltou ao normal.

O CASAL DA MARCHINHA: "Mas esse ano não vai ser igual àquele que passou. Eu não brinquei, você também não brincou. Aquela fantasia que eu comprei ficou guardada, e a sua também ficou pendurada. Mas esse ano, tá combinado. Nós vamos brincar separados."
Eles realmente brincaram separados. Ele acabou arrumando um namorado e a largou. Ela arrumou uma namorada e também o abandonou. Segundo dizem vivem muitos felizes com seus respectivos pares.