domingo, 6 de março de 2011

MÚSICA PARA SEUS OUVIDOS - PARTE 1

MÚSICA PARA SEUS OUVIDOS
A blusa com o logotipo da escola, onde fazia o supletivo, era suficiente para que ela entrasse pela porta da frente do ônibus, pelo menos tinha sido assim até o momento, e Lavínia tinha certeza quase absoluta que continuaria sendo, nem que fosse só aquela vez. Portanto ela instalou os fones de seu indefectível rádio de pilha, feitos especialmente para quele tipo de uso, nos ouvidos, e aguardou a chegada do coletivo que a levaria ao centro da cidade. A distância do seu bairro até o centro do Rio de Janeiro constituía de tempo suficiente para que ela pudesse curtir uma boa quantidade de músicas, não só pelo preenchimento do tempo, mas, acima de tudo, pelo seu prazer pessoal. Música para ela tinha a mesma importância que a própria respiração.
O que tornava o fato curioso, ou, na visão de alguns, improvável, era seu gosto musical. Ela sintonizava seu dial sempre numa emissora comumente ouvida, geralmente, por pessoas maduras, pessoas que achavam que aquela fase inconsequente da adolescência já estava a léguas de distância, e que aquele gosto por "músicas" mais sérias se instala quase naturalmente. Locutores com vozes impostadas e austeras dão o tom da nova postura. Ser contido musicalmente se torna, então, um quesito muito importante nessa nova etapa.
No que dizia respeito a Lavínia, tudo isso não passava de conversa fiada. Ela simplesmenente gostava desse tipo de música e ponto final. E é bom dizer também que ela não fora influenciada por ninguém, nem por amigos ou amigas, irmãos, pais, etc. Na verdade alguns de seus amigos estranhavam seu gosto, mas respeitavam, mesmo porque Lavínia tinha personalidade independente e voluntariosa, mas nem por isso arrogante, muito pelo contrário, seu senso de voluntariado encobria e iluminava sua espontaneidade às vezes explosiva.
O ônibus finalmente surgiu entre os outros que circulavam no mesmo bairro.
Não foi diferente. Lavínia fez sinal e o motorista abriu a porta traseira sem maiores problemas e ainda, com um sorisso no rosto, permitiu que ela entrasse.
Não se fazendo de rogada, ela prontamente adentrou no veículo, devolvendo o sorriso em maior intensidade para o condutor, pois sabia que manter o bom humor naquela função era tão importante quanto difícil, ainda mais sabendo que viajaria de graça até seu destino.
Na vivacidade e na, até certo ponto, inocência dos seus dezessete anos, se acomodou do melhor modo possível em um dos bancos na metade do ônibus,e, alegria das alegrias, no canto, com direito a janela e vento batendo no rosto, brincando com seus cabelos lisos e castanhos com algumas manchas aloiradas. Em sua opinião, um prazer indescritível.
Lembrando da distância, ela se se deixou levar pela música, que no momento se tratava de um sucesso de Milton Nascimento, Caçador de Mim, e esqueceu-se do tempo e do mundo ao seu redor.
O volume do aparelho de Lavínia estava um pouco acima do normal, o que chamava a atenção de alguns passageiros mais próximos a ela, no entanto eles não pareciam se incomodar, talvez por se tratar da música agradável, ou até mesmo pelo perfil suave e distante da menina, dona do respectivo aparelho sonoro. Bem sonoro, por sinal.
Mas lá pelo meio da viagem a paz foi quebrada.
Três personagens indesejáveis surgiram para mudar a rotina daquela viagem. Três assaltantes.
Uma mulher e dois homens.

*********************************
CONTINUA

Nenhum comentário:

Postar um comentário