domingo, 13 de março de 2011

MÚSICA PARA SEUS OUVIDOS - PARTE 2

A mulher se levantou de um dos bancos à frente de Lavínia e os outros dois vieram detrás. Ou melhor, um veio, o outro ficou dando cobertura para que o comparsa fizesse a "limpeza" nos passageiros. Embora fosse incumbido dessa tarefa o sujeito parecia ser o líder do trio, pois ao mesmo tempo em que recolhia os pertences das pessoas no ônibus, ele ditava ordens para os parceiros entre palavras e gestos. Para a mulher ele mandou que ficasse de olho no motorista e, ao mesmo tempo, vigiasse o restante do coletivo, e para o assaltante da parte traseira, com um gesto do olhar, determinou que "cuidasse" do cobrador. O meliante, que certamente já conhecia aquelas determinações, não perdeu tempo e se dirigiu ao assustado funcionário, um jovem, entre vinte e dois ou vinte e quatro anos, que trabalhava há um ano e meio naquela linha e que acabava de estrear como cobrador assaltado, daí o seu pavor genuíno ao encarar o círculo do cano de um impiedoso revóver calibre trinta e oito, o famoso tresoitão.
As instruções do assalto tinham sido dadas pela mulher. Ela se dirigiu aos passageiros de modo muito calmo e com voz muito firme, mas muito feminina, deixou todos a par do infame evento que se realizaria a seguir. Disse que ficassem todos calmos, que não fizessem nada que colocasse suas vidas em perigo, porque eles só queriam seus pertences, nada mais do que isso, sendo assim, se não houvesse nada que atrapalhasse o andamento do serviço, todos sairiam felizes, sem ferimentos ou coisas piores. Ela portava, também, um "tresoitão", e parecia ter muita intimidade com a máquina. Seu rosto denunciava uma idade duvidosa, poderia ter vinte e cinco anos, como também poderia ter vinte. Aquela vida errante já provocava marcas em seu semblante.
Foi só aí que o líder começou o saque. Mais tarde se ficaria sabendo que os dois eram amantes.
Então algo insólito aconteceu.
O bandido que se encarregou de saquear os indefesos passageiros, passou sem incomodar Lavínia, que continuava alheia ao que acontecia ao seu redor. Ela, com o rádio a todo volume, olhava para fora do ônibus através da janela, na verdade quase que cochilava, sendo assim não notara nada que acontecera até então. No seu banco só ela se encontrava, e agora, a voz de Djavan dominava seu universo atual.
Mas ela foi tirada bruscamente daquele torpor.

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