domingo, 20 de março de 2011

MÚSICA PARA SEUS OUVIDOS - PARTE 3

Ao terminar o "serviço" de recolhimento de dinheiro e objetos, o bandido foi em direção à Lavínia. Sob o olhar confuso e desconfiado de sua companheira de trabalho, ele sentou ao lado da adolescente e fez com que ela voltasse ao mundo real e cruel com um toque de mão no seu ombro direito. Lavínia teve um choque ao ver aquele sujeito ao seu lado, com uma arma atravessada na cintura, lhe pedindo seus fones. Claro que ela pensou que o sujeito ia lhe arrebatar o aparelho, pois estava na cara que se tratava de um assalto, mas ao retirar os fones dos ouvidos e, assim, ouvir a voz do bandido lhe fazendo o pedido, notou certa ênfase na palavra "emprestar", e ficou mais abismada ainda com a declaração do inesperado assaltante. Ele lhe disse que enquanto passava pelo corredor do ônibus, ouvira a música que saía do seu aparelho e, daí, não quisera interromper, e completou isso dizendo que ela também possuía um tremendo gosto musical, e, só por causa disso ia liberá-la daquele assalto. Só queria ouvir, por alguns instantes, aquela música gloriosa para atenuar um pouco seu ofício tão imprevísivel e perigoso.
Lavínia ouviu tudo isso com uma expressão entre o espanto e a sensação muito terrível de que aquilo poderia ser uma espécie de brincadeira com resultados muito tenebrosos. Mas não tinha alternativa e entregou o aparelho nas mãos do bandido, que o recebeu com um júbilo tal, que, se fosse em uma outra situação, Lavínia ,certamente, também ficaria exultante, só que ela estava tensa e extremamante ansiosa diante daquela situação totalmente inusitada.
O sujeito acabou de ouvir o restante da música, elogiou o cantor e a sua obra e logo a seguir devolveu o aparelho e seus respectivos fones para uma espantada Lavínia, que o recebeu de volta com as mãos trêmulas e olhar arregalado. Jamais poderia imaginar que um assaltante poderia ter aquele tipo de comportamento. Em sua opinião o cara devia ter vinte e dois ou, no máximo, vinte e quatro anos. O aparelho quase cai de sua mão no momento em que o dito cujo o devolve.

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CONTINUA

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